A ministra das Finanças de Angola, Vera Daves, disse hoje que várias vezes teve de dizer aos banqueiros comerciais para se acalmarem porque a prioridade do país é o financiamento em termos concessionais, abaixo das taxas do mercado. Se possível, como comprova a história do MPLA, entrando os banqueiros com o dinheiro e o governo com a experiência. Isto porque, no fim, os financiadores ficariam com a experiência e o MPLA com o dinheiro…
“Recebemos muitas propostas dos bancos comerciais para financiar projectos específicos, e a nossa iniciativa é dizer para se acalmarem, porque a prioridade é o sector privado o investimento directo, queremos tirar o pé do acelerador relativamente às linhas de financiamento”, disse Vera Daves durante uma conversa com o presidente do Banco Mundial, que decorreu esta tarde em formato virtual a partir de Washington, no âmbito dos Encontros da Primavera organizados em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Abrindo o painel sobre “Repensar a Dívida: Financiando o Futuro numa crise”, Vera Daves disse que “os bancos comerciais ainda estão interessados em dar financiamento a Angola, mas Angola quer evoluir para uma estratégia de combinação de fundos do sector privado e fundos concessionais”, ou seja, abaixo das taxas de juro praticadas pelo mercado.
Respondendo a uma pergunta sobre o interesse da banca comercial no país, a ministra respondeu que esta junção dos dois tipos de financiamento visa “convidar o sector privado para se envolver e participar connosco no crescimento e na exploração de oportunidades, e encontrar fundos através de termos concessionais que às vezes não são aceitáveis para os bancos comerciais”.
É um processo “que de alguma forma é doloroso porque há um enquadramento mental e estratégias diferentes, e alguns dos nossos parceiros já começam a perceber, mas ao princípio não era fácil negociar nestes termos”, apontou, concluindo que Angola está “empenhada com o investimento privado e em ter financiamento concessional, resistindo a assinar contratos em termos comerciais que vão adicionar stress à situação da dívida”.
O FMI prevê que Angola saia da recessão este ano, crescendo 0,4% e acelere o crescimento para 2,4% em 2022, antecipando também uma redução da dívida pública para menos de 100% do Produto Interno Bruto no próximo ano.
Recorde-se que o FMI acaba de baixar a previsão de crescimento de Angola, de 3,2% para 0,4% este ano.
Acreditando que aos angolanos só faltam as penas para serem burros, a ministra das Finanças passa a ordem superior de que o MPLA está quase a encontrar a “pedra filosofal”, descobrindo ao mesmo tempo o caminho marítimo para o Huambo com a tese de (espantemo-nos!) que diversificar a economia é essencial para conseguir vencer o desafio da dívida, que o FMI coloca nos 110,7% do PIB este ano.
“Temos de garantir que diversificamos a nossa economia e quebramos a nossa dependência do petróleo, crescendo de forma inclusiva, com mais empregos, mais colecta de impostos e aumentamos a nossa capacidade de pedir menos linhas de financiamento, mesmo que seja a nível concessional, e se isso acontecer as taxas de juro baixam”, diz Vera Esperança dos Santos Daves de Sousa.
Por outras palavras, o Governo procura garantir que antes de morrerem os angolanos estavam vivos. E não é que tem razão?
Durante uma conversa com o presidente do Banco Mundial, David Malpass, no âmbito dos Encontros da Primavera do banco e do Fundo Monetário Internacional, a ministra das Finanças de Angola abriu a discussão no painel sobre “Repensar a Dívida: Financiando o Futuro numa crise” e admitiu enormes dificuldades económicas.
Por conveniência estratégica, a ministra esquece-se que Angola só teve governos do MPLA e explica que “estávamos a sofrer com as consequências da pandemia, estávamos num ponto de partida difícil, com recessões durante tantos anos e a pandemia veio piorar a economia, que é muito dependente do petróleo, e por isso tudo o que afecta o petróleo afecta-nos muito duramente”, disse Vera Daves.
Lembrando as principais dificuldades dos últimos anos, em que Angola enfrentou crescimentos económicos negativos, prevendo o FMI que cresça 0,4% este ano e 2,4% em 2022, a ministra disse que foi preciso “trabalhar em diferentes frentes”, elencando as reformas na receita, na despesa e na dívida, e sublinhando a “ajuda importante do Banco Mundial, FMI e a Iniciativa para a Suspensão da Dívida (DSSI), do G20, hoje alargada pela última vez até final deste ano.
“Isto foi muito útil e falámos com os principais credores para encontrar uma solução que nos permitisse ter espaço para respirar a médio prazo e libertar recursos financeiros para lidar com as necessidades sociais e dar apoio financeiro às famílias”, acrescentou a governante.
Questionada sobre a evolução do montante de dívida pelo presidente do Banco Mundial, Vera Daves respondeu que houve um aumento da dívida externa em 18 mil milhões de dólares desde 2015, mas salientou que “se olharmos para o total da dívida, de 2017 até 2020 há um decréscimo de 88 mil milhões para 68 mil milhões de dólares, o que mostra que apesar de ainda termos desafios, estamos no bom caminho”.
Para além disso, acrescentou, houve também “uma redução de 60% desde 2018 nas necessidades brutas de financiamento, através da expansão da base da colecta fiscal”.
Vera Daves admitiu que ainda é preciso “melhorar a qualidade da despesa e construir confiança sobre os indicadores macroeconómicos e o empenho do Governo nas reformas para garantir que a percepção de risco do país diminui e que as taxas de juro desçam, o que é importante”.
O FMI prevê que Angola saia da recessão este ano, crescendo 0,4% e acelere o crescimento para 2,4% em 2022, antecipando também uma redução da dívida pública para menos de 100% do PIB no próximo ano.
Folha 8 com Lusa